Debate também abordou formas de acolhimento e superação
Representantes femininas de segmentos religiosos debateram, na Câmara Municipal de Limeira, o apoio e a orientação espiritual que as religiões podem promover junto às mulheres vítimas de violência. A atividade, realizada na noite de sexta-feira, 8 de dezembro, foi coordenada pela vereadora Erika Tank (PR) e contou com a presença de Helena Abdalla Gomide (Espírita), Erika Godoy Junker Sanches (Evangélica), Carine Fernandes (Umbanda), Rosângela Martins (Sagrado Feminino) e Joyce Hailer (Fórum Inter-religioso).
A vereadora abriu a conversa motivando as debatedoras a falar sobre o que as lideranças religiosas podem fazer, tanto no nível espiritual como no acolhimento social, para cessar a violência.
Ao iniciar o debate, Rosângela Martins, em nome do grupo Sagrado Feminino, falou da experiência de apoio em forma de círculo de mulheres. "Nós estamos lá para ouvir. Esse processo da escuta tem muito mais adeptos e é o nosso caminho: o empoderamento através da escuta", esclareceu. Segundo ela, o Sagrado Feminino é menos uma religião e mais um trabalho terapêutico.
Ela contou ainda sua experiência pessoal, quando foi vítima de um estupro de rua e, naquele momento, não denunciou à polícia. No entanto, mais recentemente, quando se sentiu empoderada, o crime já havia prescrito. "Isto é o que me move hoje: falar por outras mulheres", revelou.
Da mesma forma, a umbandista Carine Fernandes defendeu o método da escuta e sustentou que a liderança religiosa, homem ou mulher, deve levar informação e habilitar a mulher para ela saber como agir quando a violência acontecer. "No momento em que a mulher chega ao terreiro já se sente em casa porque as religiões de matriz africana são uma das poucas que tem modelo matriarcal e a mulher ocupa posição de líder", disse.
Ela também contou como a Umbanda atua nesses casos. "Lá é como um pronto-socorro, primeiro a gente se preocupa com o ser humano, já que o fundamental é a prática da caridade, do amor e do respeito. A gente acolhe, aconselha e direciona."
A escuta generosa e a acolhida é o que propõe também a evangélica Erika Godoy Junker Sanches, da Igreja Presbiteriana Independente. Ela contou que sua congregação abriu a oportunidade de as mulheres ocuparem as funções eclesiásticas de liderança. No entanto, o espaço dado às mulheres ainda é insuficiente. "Algumas igrejas já abriram espaço, mas na maioria ainda não."
Apesar dos avanços, Erika considera que ainda é pouco diante do que é preciso fazer. "E o debate, promovido pela Câmara, contribui com a troca de experiências e fortalece a ação em cada unidade religiosa", afirmou.
Representando os espíritas, Helena Abdalla Gomide tratou da questão da violência de uma forma mais ampla, conjuntural, que afeta tanto homens como mulheres. Segundo a oradora, fazer o atendimento fraterno é insuficiente. "Quando a gente acarinha uma vítima, estamos fazendo a nossa parte, mas nós não estamos resolvendo a situação. Resolver a situação da violência contra a mulher e o homem significa uma coisa muito mais profunda e difícil", explicou.
Helena propõe que o Estado promova mais educação e cultura e que o Brasil se transforme em uma terra acolhedora de todas as raças e religiões. "Eu vejo a violência como uma questão muito mais ampla, ela existe por uma ausência do Estado, pela desagregação familiar, pelo subemprego e pela miséria", esclareceu.
Por fim, Joyce Hailer, integrante do Fórum Inter-religioso, contou sua experiência de crescer e viver em um ambiente de doutrinação de submissão da mulher. Ela defendeu ainda que os números da violência não são reais "porque a todo momento existe uma mulher violentada". "Quantas mulheres estão dormindo chorando porque não conseguem driblar esse sistema e esse machismo simplesmente por medo?", questionou. "A violência está muito mais próxima do que nós imaginamos."
Ativismo
Ao final do evento, a vereadora entregou para as debatedoras uma cópia da pesquisa sobre a violência contra a mulher em Limeira. E falou da importância do levantamento, desenvolvido pela Câmara, para formular políticas públicas.
A palestra encerrou o ciclo de atividades conhecido como “16 dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres”, instituído no Legislativo municipal pela Resolução 566/2015, de autoria da vereadora Erika Tank (PR), e organizado, nesse ano, pelas vereadoras Dra Mayra Costa (PPS), Lu Bogo (PR), Constância Felix (PDT), Carolina Pontes (PSDB) e a proponente da resolução.
A campanha é uma mobilização mundial, realizada anualmente de 25 de novembro a 10 de dezembro, e agrega atores da sociedade civil e do poder público, com a finalidade de conscientizar a população sobre os diferentes tipos de agressão contra mulheres, sejam elas crianças, adultas ou idosas.